quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tempo de Eleição

          Quando chega tempo de eleição, os carros de som fazem aquele barulho ensurdecedor, estudar não se pode mais, contudo já me acostumei com esse problema que já virou até rotina. Coloco aqui em discussão outra característica dos tempos de eleição, muito mais problemática e menos discutida, que é o comportamento do eleitor.

          I- Parece que estamos em uma discussão acerca de religião ou de times de futebol (mais religião) onde parece que existe uma verdade absoluta onde os políticos são só bonzinhos ou só mauzões, isso ocorre sobretudo em discussões em que pessoas estão pautadas no senso comum e de nenhuma natureza científica, mas também existe, e muito, essa característica no meio do que se chama de "mentes pensantes". O argumento "religioso" é fundamentado sobretudo em falácias, algumas das mais discrepantes possíveis, como "Fulano é o melhor político a ser votado pois ele fez estradas, hospitais, escolas e etc." ou "A Veja, a Globo, e Época disse que a Cicrano rouba o erário, portanto não votarei neles" que fazem com que as pessoas se fundamentem erroneamente acerca daquilo que elas pretendem somente para ganhar as discussões com o cunhado, primo, pai, sobrinho, amigo; principalmente bêbados (rsrs). Ganha a discussão quem falar mais alto. Perceba no primeiro exemplo de falácia que eu dei, a condição de Fulano fazer estradas, hospitais, escolas e etc. é necessária, mas não suficiente para que alguém se diga a vota na pessoa, e no segundo exemplo a falácia é de autoridade, não é porque a Globo, a Veja  ou a Época disseram que você vai segui-las. Elas partem de um princípio legislativo que pode muito bem ser diferente do seu e de quem você está a discutir.

          II- Quando alguém decide em quem votar, geralmente não muda de opinião, e se baseia em seus argumentos falaciosos que ele mesmo acredita, fica um dogma em sua cabeça que é quase inquebrável. Apesar de todas as argumentações possíveis essa pessoa não "larga o osso" por ser acusada de "vira folha" externamente - para não se contradizer em meio às pessoas  das quais ele vai falar - e internamente para que ele próprio não entre em contradição. Essa visão é danosa porque não temos, com isso, possibilidades reais de mudar nosso voto, somente quando vemos que nosso candidato realmente fez uma coisa que não nos agradou, ou nem isso. Essa visão deturpa a ideia de democracia, já que criamos uma espécie de falso vínculo com o candidato acerca do qual nos temos que votar. Essa prática pode não parecer, mas é uma das mais comuns de todas no Brasil, tanto é que raramente há uma "virada" de um candidato a outro. Há sim, não negarei, mas é da parte que se viu refém de uma ideologia que ele não concorda, ou se o candidato fez muita besteira - mais refém da ideologia que ele não concorda, é claro - e eu já vi muita virada de um candidato que estava lá em baixo das pesquisas. Isso, no entanto, ocorre com certa raridade. O certo seria que a candidatura no Brasil fosse mais instável, para que o candidato dê o sangue por sua candidatura. Mas essa mudança de mentalidade é muito difícil, no brasil, ganha quem fala mais alto, como já disse anteriormente. Essa ideologia não deve cercar nosso entendimento.

          III- Outro aspecto legal é da Copa do Mundo. Querendo ou não, só acontece no tempo de eleição para a maioria dos cargos eletivos, onde o povo é mais patriótico e se envolve de ver a Seleção jogar. Isso tem dois aspectos, um ruim que já sabemos do que se trata, que é o da alienação que temos com a copa do mundo, não queremos saber, nesse tempo, nada acerca de eleição, as bandeirolas, as pinturas nas casas são um aspecto que justifica isso, já que estão voltadas ao fanatismo feito à seleção brasileira. São raras os aspectos nos jornais acerca das eleições na época de Junho e Julho, quando é normal que aconteça a copa. Quando chega no tempo de eleição nos vemos reféns de escolher bastante rápido em quem votar, sem muito refletir, fazendo com que queiramos votar precipitadamente. Contudo, há um lado bom. Vou explicar: somos mais patriotas nesse tempo, enquanto que nos outros três anos queremos ser norte-americanos, tomamos coca-cola, lanchamos no McDonalds, fazemos Design em nossas roupas e nossas arrumações, deletamos quando erramos; queremos ir pra Europa porque no Brasil só tem gente má educada (ledo engano) e pobre; nesse ano, o "ano do Brasil" parece que queremos ser brasileiros, nos envolvemos com a política de maneira mais contundente, parece que somos menos alienados, queremos o melhor para o Brasil, enfim, somos verdadeiramente brasileiros. O patriotismo nacional, que quase não existe nos outros três anos se faz presente nesse ano, e esse patriotismo nacional, quando chega perto dos tempos de eleição se transforma em patriotismo constitucional. Patriotismo nacional é aquele sentimento acerca do qual temos um certo orgulho acerca da nossa nação, nação e que fazemos parte, um sentimento nacional que nos une, as pessoas de uma mesma nação; nação seria o conjunto das pessoas que nasceram em um país e que tem um vínculo cultural de identidade com aquele povo. Patriotismo constitucional é aquele acerca do qual fazemos parte de um sentimento constitucional, acerca do qual queremos defender de todo modo nossos direitos, e para que tenhamos um certo amor à república, fazendo com que nossa palavra de ordem seja a democracia. Em outros lugares, o patriotismo nacional é um conceito muito separado de patriotismo constitucional, um exemplo é o da Alemanha, onde o patriotismo nacional foi utilizado por Hitler, para afirmar a supremacia do "povo ariano" e que ele pode dominar o mundo inteiro o que anos mais tarde foi rejeitado pelos próprios alemães, hoje o patriotismo alemão é o patriotismo constitucionalSeleção Brasileira e o patriotismo constitucional, capitaneado pelas Eleições Diretas. Ao menos temos no Brasil um sentimento patriotico nesse tempo, queira nacional, queira constitucional, para que tentemos resolver os problemas do Brasil. Nesse tempo, os jornais valorizam mais o Brasil do que o estrangeiro, as pessoas valorizam mais o Brasil do que o estrangeiro, falamos mais no Brasil, temos mais orgulho do Brasil, aquele sentimento de sair do Brasil, a não ser pra viagem, pouco se fala. Queremos o melhor para a pátria acerca da qual estamos, por isso discutimos de maneira mais acalorada esses aspectos. A autonomia pública se faz mais presente, e a autonomia privada, aparece também como pano-de-fundo. Vejam: O projeto Ficha Limpa foi a primeira lei que foi aprovada pelo povo. Há muitas controvérsias acerca disso, onde o projeto tinha nascido de um partido (PC do B se não me engano) que pediu para as pessoas votarem nesse projeto. Fato é que o projeto de lei, que foi o primeiro no Brasil por meio de iniciativa popular, (há projetos que foram iniciados pela população, mas os parlamentares, espertos, usaram esses projetos no nome deles, como se eles tivessem feito) e isso já é um avanço significativo no Brasil, é uma forma de reagir contra a corrupção para que o Brasil possa melhorar. Quando iam emendando esse projeto, a população, mais uma vez botou "a boca no trombone" e mencionou que não poderia acontecer., primeiro porque o projeto é popular, o que podia ocasionar uma deturpação em prol dos parlamentares, e segundo , e mais importante, era que as eleições de 2010 poderiam acontecer sem que essa lei fosse sancionada. Os senadores acataram de tal forma que deu até orgulho. Não estou questionando a lacunosidade do projeto, que, não por acaso, tem um parecido na câmara dos deputados desde 2003 (sim, isso já existia e foi projeto de um senador desde essa época que nunca foi colocado em discussão). Os parlamentares se aproveitando desse sentimento nacional, aproveitam para lançar os seus projetos mais significativos, mas parece que a população já entendeu que isso é uma espécie de campanha política antecipada. Queria que esse ano fosse bissexto, pra que o Ano do Brasil fosse maior e tivesse mais um dia. Por mim, apesar de não ser todo o ano, o que seria ideal, posso com orgulho dizer sem medo: VIVA O ANO DO BRASIL!

Nenhum comentário:

Postar um comentário