sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Caso Bruno e Uma Relexão Política

           Um dia desse me surpreendi com a defesa de uma de minhas amigas acerca do caso Bruno. Um caso batido, saturado, chato, já estou "por aqui" só de tanto ser veiculado pela mídia. Fui pensar um pouco logo após a discussão (acalorada) e vi que em alguns pontos que gostaria de colocar em discussão aqui.

          I- Quando comecei a estudar Direito Civil, sobretudo no início, nas aulas da professora Maria Tereza me deparei com um brocardo jurídico (tema da aula) que dizia "uma testemunha, nenhuma testemunha", onde esse brocardo visava dar maior segurança para os atos acerca dos quais os operadores jurídicos não se baseassem em somente uma única testemunha, podendo essa ser coagida por outrem ou por vingança do réu, entre outros fatores; fazendo com que não ocorra esse tipo de insegurança. O fato é que todos os acusados foram presos somente com base em um depoimento de um jovem de 17 anos, que poderia muito bem ter sido coagido ou agido de maneira vingativa, além de nem saber a história toda. Nenhuma das provas é decisiva para que se confirme o envolvimento de Bruno no assassinato de Elisa, e mesmo assim ele foi preso arbitrariamente e todos os habeas corpus dirigidos aos tribunais superiores foram indeferidos numa clara demonstração de "querer mostrar serviço" quando o Brasil inteiro está vendo, uma forma de dizer que a justiça funciona, mesmo que isso signifique uma injustiça para o direito.

          II- Vi uma reportagem no "Vi O Mundo" do Azenha acerca do feminicídio. De fato isso ocorre, sobretudo no lugar onde moro, inclusive eu compartilhava dessa ideia até antes de ler o texto. Ele falava que quando nos referimos ao Bruno, sobretudo os mais alienados, mencionam que ele "Tinha uma carreira brilhante pela frente", enquanto eles falam que era uma "vadia, só queria o dinheiro", sem justificar o Bruno nem ao menos dizer que ele é inocente, só fazendo com que se entenda que, em certa medida, a culpada também era ela, justificando pelo seu "antecedente libidinoso", o que de fato não ocorreu, ela só estava exercendo seu direito como mãe de querer que o pai pague pensão. Podia até ser que a moça quisesse pensão, podia até ser que ela seja uma "vadia prostituta", contudo, matar uma mulher por esse motivo é meio que trágico (pra eu não dizer outra coisa). Uma coisa é brigar na justiça para tirar uma quantia significativa de dinheiro e obrigar a fazer tudo o que ela quisesse, outra completamente diferente é matar ela somente para que não se faça mais as vontades dela mesmo tendo dinheiro suficiente. Matar a mãe do próprio filho é no mínimo uma coisa um tanto quanto "errada". Se ele estivesse achando ruim, ele deveria pedir por vias judiciais a criança já que ela, ao olhar dele, não tinha condições de ficar com o filho, dando até a justificativa de que ela seria essa "vadia prostituta" em juízo. Agora, é muito errado achar que, apesar de tudo, ele é  a vítima da história, como se a culpa seria dela de ter matado, como se ela não tivesse direito de reivindicar a paternidade de seu filho uma vez que ele é o pai e isso ela tem sim direito. Isso reflete de sobremaneira o patriarcalismo que ainda temos em nossas mentes que é reflexo de uma sociedade que advém de tempos remotos desde a colonização ou até antes dela

          III- A midiocracia se faz muito evidente nessa decisão. Parece que todas as pessoas estão achando que Bruno é culpado sem ao menos provar nada. Não estou aqui defendendo ele, se ele fez o Estado tem que puni-lo; mas se ele for inocente? Era impensável isso para a amiga acerca da qual eu debati. Ela, com unhas e dentes, sem muitas provas, só com o que a mídia tinha passado para ela, defendeu categoricamente que bruno era culpado, e ainda me acusava de estar defendendo ele. Ela me dizia que as evidências eram muito claras e que eu não era capaz de argumentar contra ela, apesar de meus argumentos serem definitivamente mais fortes, faço aí uma analogia aos fanáticos religiosos, ela não conseguia perceber isso. Pareceu com o caso Nardoni, onde o cara foi preso por além da pena máxima de 30 anos onde um caso similar ocorreu há pouco tempo antes, num município perto de onde moro, o cara foi condenado a ir preso somente um pouco mais de 20 anos. Além do que a carreira futebolística do Bruno, se caso for provada sua inocência nunca mais será a mesma, uma vez que ele pode até voltar pro futebol, mas sua imagem foi tão desgastada que ele vai criar uma antipatia no próprio time, nas pessoas, ele passará pela rua e vai encontrar uma velhinha e irá bater nele e chamá-lo de assassino. Nunca mais será convocado para nada, tudo por culpa de uma mídia sedenta por furos de reportagem e seu capacho, o Estado.

           IV- Por tudo isso, parece que estamos diante de um Estado patriarcalista, e ainda vivemos em uma espécie de sociedade feudal e onde não mais a Igreja Católica, mas a mídia é mais influente de todos os entes, sendo assim, na modernidade, a mais poderosa arma contra o cidadão. Uma das coisas que mais me colocam medo hoje  é de ser acusado pela mídia. Acontece que ela prende quem ela quer, ela exalta quem ela quer. Ela veicula coisas do tipo: “políticos são todos ladrões” o que não é de todo correto, tirando, assim do povo a capacidade de querer lutar pelos seus direitos, ora, se políticos são todos ladrões eu não quero saber de política, ressaltando o poema “O Analfabeto Político” de Bertolt Brecht. Sinceramente, Eu tenho muita raiva dessa ideologia que foi transpassada, é tão ingênuo quanto dizer que nenhum político é ladrão. Por que? Não sei, mas a cada dia que passa estou cada vez mais convencido de que isso pode ser até propositadamente, uma vez que há um interesse por detrás disso, como já dizia Marx "A ideia dominante é a ideia da classe dominante" que difunde essas mazelas com a finalidade de que a participação popular seja a menor possível. Vocês já devem ter ouvido frases do tipo "Odeio política porque político é tudo ladrão", isso incita a pessoas não quererem participar, pois o sindicato é do governo ou é de oposição, o partido é da base aliada o outro é o extremista, levando a população a deixar de participar cada vez mais da política (o que ocorre o inverso nos países ditos "desenvolvidos", onde a população vai à rua reivindicar os seus direitos). Parece que nossa política é tão corrompida que não temos como mudá-la. É isso que eles querem para ficar no poder. É um complô. Eu vi uma vez a pregação do pastos Silas Malafaia falando acerca dos evangélicos em um escândalo de desvio de verbas públicas, dizia ela mais ou menos assim: "A televisão mostrou todos os políticos envolvendo o desvio de verbas públicas e ressaltou  de sobremaneira os evangélicos, e quando esses foram absolvidos, numa clara demonstração de equívoco das autoridades que abriram o inquérito, nenhuma televisão veiculou em nenhum lugar". É claro que pode até parecer para alguns que são ateus que eles podem até roubar de outra forma (igreja) mas isso, definitivamente, não está em questão aqui, mas sim esse desacreditar na política brasileira, que se torna danoso, fazendo com a que as pessoas nem queiram mais votar! Tudo bem, está certo que algumas vezes até pode ser que não queiramos votar. Mas a ideologia é de que as pessoas estão querendo não exercer a cidadania, jogando fora o que tanto demoraram pra conquistar.

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